sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CIRCO DE PALAVRAS, DEUS, PALHAÇO E POESIA




Sou do circo das palavras, Deus, palhaço e poesia.
O palhaço e deus são meus guias, me guia-se assim;
a mim necessito nesse circo, que eu sou, sim, de poesia.
Sou do circo de palavras de acordo com circo de poesia
cada palavra é palhaço e cada palhaço é palavra,
é meu guia sim, em se, não sem fantasia.

Sou do circo de poesia, em cada dor que se rendia,
arrendava o dia, rondava  arredores, arrodiava
em arredia as rédeas do que sentia e se escondia
ou fingia que fingia que fugia, como o sol desaparecia
com a chegada da noite e reaparecia feito lua no outro dia,
que ainda hoje irradia.

Vejam! O radiador pegando fogo, queimando a bunda
do palhaço que do seu carro só corria, "sorria" e a plateia
só ria, tanto o palhaço quanto um outro na arquibancada
só fingiam que diziam o riso, e assim faziam.

Mesmo sem rir no riso ria, mesmo sem ir no rio ia,
e fazia, da dor o riso, Narciso do picadeiro nascido
pro paradeiro da poesia. Quem dizia não ouvia
e quem via não dizia que o outro na plateia ouvia,
quem um outro via não dizia nada.

"Palavra" silêncio! Cala a boca palavra, não diga nada,
nada diga, digna nada, só nos conte um piada que nada
bem engraçada, nesse rio de palhaçada que nada fale
de poesia.

Com apenas uma  palavra, o palhaço na arquibancada
pronunciava  sua poesia, no circo sem fantasia que fazia,
sim, sua poesia e da arquibancada o palhaço se pronunciava
e assim dizia: "vida"; e todo mundo ria, ninguém aguentava,
quase morria, só no palhaço não havia graça e nem via,
a vida andava fudendo com a sua fantasia

Sou do circo de poesia circulando no trapézio
e geometria das palavras, das palavras, das palavras...
da poesia com cara de palhaço, mas sem fantasia.

Um poeta contador de piada, que falava que falava que falava...
sem palavras, cem palavras, que tenta contar
piada na poesia

Meio ébrio meio plebe meio leve meio lebre
na cartola do mágico comunista. Equilibrista,
meio cientista e artista, palhaço, budista, malabarista
autista, hinduísta... é tanto -ista que isto passa a ser
uma pista de que nada sou egoísta
porque em mim há um sambista e isto passa, mais uma
vez, a ser uma pista que foi bem verdade a frase
 “  terra a vista "

não tava lá, esta  terra por mim não pôde ser vista
mas aposto que até hoje não deu na revista
que os índias perderam de vez as vestes; e os índios
perderam de vê-las à vista,  além da terra e as vistas

Sou do circo das palavras na poesia circulando
entre a platéia do picadeiro e o palhaço
da arquibancada circulando nas palavras

sou do circo de poesia circulando nas palavras
sou do circo das palavras circulando na poesia

porque sei que a vida é uma grande piada
por deus mal contada e por ele inventada
porque ele não nasceu para picadeiro
tá mais para arquibancada.