segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SEVERINO JOÃO NINGUÉM SERTANEJO VAI A BRASÍLIA FAZER UM APELEJO


Excelentíssimo senhor presidente
da República federativa desse meu Brasil
País banguelo já sem dente
que só toma no funil

dessa pátria que não tem mãe
Pátria que ninguém pariu

Sou Severino João ninguém sertanejo
vim a brasília fazer um apelejo
ao senhores pro meu povo tão gentil

que vive no erro do engano
O povo esquece a própria língua
pra falar americano
por isso muitas vezes
que só entra pelo cano

Patria que não me pariu
Parece que veio de uma pata
Não a pata de um bicho
Mas a pata de seu chico

que um dia um pinto engoliu
Que de tanto passar fome
chocou um pintin magro
que num sei como ainda ta vivo
Que se chama o seu brasil

eu vim la do sertão do meu nordeste
sou mais cabra da peste
que não tem bonitas vestes
nem um bom palavreado

falo do meu jeito errado
com um falar pouco estudado
mas sou bem desenrolado
já enrolei até o diabo
mas o diabo da mulé
é difícil de enrolar
que é difícil que é danado

eu danço de tudo
frevo xote até baião
quando monto no meu jegue
até na contra mão
me sinto mick jeagger
um rei do rock do sertão
dom quixote rei ricardo o rei leão
me sinto o dono do pedaço
e também rei do cangaço
um cabra valente
que se chamava lampião

vou levando á vida
do meu jeito agitado
no improviso do pandeiro
e do embolado
e no embalo da morena
e na batida do ganzá
quero me aconchegar

é proibido cochilar

se não a mule me pega
da aquele chilique lá
e me da uma surra da moléstia
pra eu nunca mais me levanta

mas quem não chora
não mama não é doutor
no meio do pega pra capar
quando bicho vem pegar
quando o negócio é se virar
nasci pra ser professor

eu vim la do sertão meu senhor
nunca vi touro da leito nem vaca
nem vaca da de mamá
mas quando pego na viola
as mulé fica toda a se mijar

na batida do pandeiro e rebolado
da morena eu quero é me atualizar
vou dançar a noite inteira até ver o sol raia
um forró de pé de serra
um côco de me acabar

de manhã cedin ligo o lampião
acendo a luz da imaginação
plantando os versos de fogo
em plenos tempos de chuva
nesse meu sagrado chão

e nessa terra que nos cobre e
nesse chão que nos veste
sou um poeta caba da peste
shakespeare do nordeste

sou um cara arretado
vou atrás de meus direitos
não aceito ser negado
nem tão pouco enganado

sou um cidadão do mundo
andando pela estrada
cidadão do meu brasil
a mãe da pátria é importada
a pátria mãe que me pariu
nunca me foi muito amigada
nunca foi muito gentil
seus filhos passam fome
e por ela é maltratada
e por ela se feriu

de meus princípios eu não abro mão
tenho minha convicção
só voltarei pra minha terra
quando tiver água potável
na seca do coração
quando tiver água da chuva
na seca do meu sertão

quando o povo brasileiro
aprender com o João
que quem não chora não mama
e quem não reclama
nunca encontra a solução

um dia vi na televisão
um homem dizendo a nação
a seguinte informação

o maior resultado da conquista
de um país é o estado
a ética ta perdida
e o povo abandonado

eu perguntando a mule
que diabo ele tinha la falado
o diabo da mule vem me dizer
o que ele tinha inventado
é que todo mundo ta ferrado
que o pobre ta fudido
e cada vez ta mais lascado
eu fiquei muito erretado
era melhor ele ter ficado calado

esse safado condenado
ta me chamando de froxo e de viado
vou pegar minha peixeira e vou falar
com esse danado

pois sou severino sertanejo
e agora to muito brabo
filho de chico chicote
e maria vara curta
meu pai amansava os boi
minha mãe matava as puta
hoje to muito é invocado

depois do homem da notícia
ter me esculhambado
vou sai da paraíba
pra bater la em brasília
e quero ver o resultado

por isso que vim aqui fazer
um apelejo pros senhores deputados
e senhores do senado

este que aqui esta prosando com desdém
o severino joão ninguem
que fala pelos outros também
um dia ei de ser muito importante
nem que seja só um dia
nem que seja na agonia
quando for usar a mão
na próxima eleição
pra escolher representante

sou magrelo to até mei banguelo
de tanto passar fome
mas as mulé vive dizendo
que eu pareço um ciderelo
e que eu sou é muito homi

posso até está sem dente
mas meu sorriso é elegante
vim aqui representar
o meu povo ignorante

pelo amor de deus
os senhores deputados
senhores do senado
se os senhores são decentes
comprem uma chapa nova
pra saúde já sem dente
comprem uma roupa nova
pra esse estado decadente

e me ajude a enrrolar minha mule
o caso aqui é muito sério
se não vou pro cimitério
se não for como ela quer
ta feito o funaré

me ajude a enganar minha mulé
a dizer que sou inocente
que num fui no cabaré
e vim falar com o presidente
e dizer como é que é
o povo morrer de sede no nordeste
e comer quando puder

eita mule danada se eu não venho
até aqui ela me cobre na porrada
ainda bem que ela não veio
não só a mim ela torava pelo meio
entrava no embalo senador e deputado
tão decente e inocente os bichin

imagino minha mulher
 batendo no presidente
como quem bate num saguin
ainda chegando em casa
com um dente do excelente de presente
embrulhado só pra mim
aquilo é ruim aquilo não é gente
roupa boa nenhuma veste

Me ajudem a enganar aquela peste
é só dizer em rede nacional
que esse brasil é bem descente
e respeita o povo do nordeste

Um comentário:

Kleber Gomes disse...

Otimo cara!!! Boa critica! Além de um otimo enredo comico!